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domingo, 18 de abril de 2010

The Meaning of Life

Essa é uma história verdadeira, aconteceu com um amigo de um amigo meu:

Marcelo não acordava cedo, nunca. Porém aquele dia não eram sete horas e já estava de pé, de banho tomado e pronto para o colégio. Seu avô, que costumava acordar o garoto da 8ª série todo dia as oito, levou um susto ao vê-lo sentado na sala lendo o jornal.

- Que foi Marcelo? Madrugou porque?

- Nada não, vô, só acordei.

Tirando esse detalhe, a manhã transcorreu sem nenhuma outra diferença para todas as manhãs durante a semana. O pai de Marcelo saiu do chuveiro às 8, tomou uma chícara de café, e as 8:20 em ponto saiu de casa no carro da família, levou o filho para a escola, e foi trabalhar.

Marcelo se sentia diferente aquele dia, normalmente não conseguia ficar de olhos abertos na primeira aula, mas nessa manhã viu toda a aula de português com uma atenção tão fervorosa que até sua professora lhe congratulou. Não fazia idéia do que estava acontecendo, ele estava mais alerto, mais receptivo que o normal, só de uma coisa tinha certeza, por mais diferente que as coisas estivessem, não conseguiria resistir à aula de sociologia.

Seu professor de Sociologia era o clássico professor malvado de toda escola, se achava superior à todos, distribuía notas baixas para quem não ia de acordo com ele, tudo respaldado pela subjetividade de sua matéria. As aulas de sociologia eram o inferno acadêmico de Marcelo, o professor, que se chamava Hélio, não morria de amores por ele, e ele não conseguia nunca prestar atenção na aula toda, sempre divagava e se perdia em pensamentos.

Nisso realmente acertou, não apenas Sr. Hélio começou a explicar a opinião de certos sociólogos sobre o sentido da vida, Marcelo começou a pensar sobre assunto, mas de sua própria maneira. Abstraiu de tudo ao seu redor, e de repente no meio de sua divagação, ele soube.

Ele percebeu tudo que ninguém nunca tinha percebido, de uma forma tão clara, e tão simples, que chegava a ser ridículo como ninguém tinha ainda descoberto o sentido da vida humana! E ele de repente com a informação inicial, começou a traçar paralelos e conseqüências. Aquilo era maravilhoso, e ele sabia que tinha que contar para alguém, estava tendo um orgasmo intelectual!

-Marcelo? Marcelo!?

A voz de seu professor lhe chegava de longe, mas ele sabia que tinha que responder, tentou continuar raciocinando sobre os mistérios que estavam sendo revelados, e emitiu o único som que conseguiu:

- Han?

- O senhor poderia me dizer o que DaMatta pensa sobre o assunto?

- Não professor, mas é que...

- "Mas é que" nada, você acha que sabe mais do que DaMatta sobre o sentido da vida? Pode sair da sala agora mesmo, senta lá fora que eu cuido de você depois!

Marcelo ficou aturdido por um momento, queria responder o professor, mas não sabia mais o que falar. Ficou parado tentando retomar o pensamento, sabia que tinha alguma coisa importantíssima pra dizer, mas não sabia mais o que era.

- Ainda está aí porque? Vamos, mandei sair!

Lentamente começou a se mover em direção à porta, não se lembrava o que estava pensando no segundo anterior, o professor ao interrompe-lo, tinha quebrado o fluxo de raciocínio, e tudo que ele tinha pensado se perdeu. Saiu triste da sala, não se importava muito com o professor Hélio, sabia que ia ficar de recuperação mesmo, mas aquela sensação na boca do estômago que tinha esquecido algo muito importante era tão forte que chegava a doer.

No dia seguinte marcelo não acordou na hora, chegou atrasado na escola, dormiu na primeira aula, e fez tudo como sempre tinha feito. Viveu o resto da vida com a certeza que tinha pensado em algo de muito importante aquele dia, mas o professor de Sociologia tinha feito o pensamento se perder. Teve uma vida longa e boa, morreu aos 83 anos de cancer, e até o último momento teve como companheira aquela sensação que estava esquecendo algo muito, muito importante.